segunda-feira, 13 de julho de 2009

Preconceito? Estou fora. Estou mesmo?

Texto de Jaime Pinski.

Uma forma bem brasileira de demonstrar preconceito são as piadinhas. Nelas, os portugueses (e as loiras) são sempre burros, os italianos barulhentos, os argentinos arrogantes, os judeus argentários, os “turcos” comerciantes ladinos e por aí afora. Nada contra piadas, desde que elas não sirvam como veículo de reprodução e reforço de estereótipos. E estereótipos são responsáveis por frases estúpidas, como “loira, porém inteligente”, ou “argentino, porém modesto”. O “porém” deixa claro que aquele indivíduo é a exceção que confi rma a regra.

A função social do preconceito é colocar o objeto dele em posição de inferioridade. Quando berramos no trânsito que “dona Maria deveria pilotar fogão”, não um carro, queremos dizer que todas as mulheres dirigem mal. O corolário é óbvio: “Como não sou mulher, obviamente eu dirijo bem, e, portanto, sou superior a todas as mulheres”. Raciocínios desse tipo é que levaram uma nação culta e civilizada a supor que qualquer “ariano” era superior a Einstein, por este ser judeu, de raça inferior, consequentemente.

Os relativistas que me desculpem, mas o preconceito ganha terreno quando falamos da suposta inferioridade da mulher com relação ao homem, do velho com relação ao jovem, do negro com relação ao branco. Se a mulher tem menos força que o homem, possui, por outro lado, mais resistência e vive mais. Se o jovem tem a pele mais lisa e mais vigor, perde em experiência e tolerância. Cor de pele é melanina, não raça, uma vez que os humanos, sem exceção, fazem parte de uma só raça.
Além disso, do ponto de vista intelectual, não há nenhuma diferença provada entre baixos e altos, escuros e claros, homens e mulheres, garotões e maduros, homossexuais e heterossexuais, norte e sul-americanos, europeus e africanos. Por mais que grupos e estados racistas tenham tentado provar essa tese.

No entanto, estamos sempre discriminando (a discriminação é o preconceito em ação): discriminamos os “sem-carro” ao não respeitarmos faixas de pedestres; discriminamos cadeirantes ao não construirmos rampas entre as ruas e as calçadas; discriminamos ambos quando o ônibus não encosta no meio-fi o para facilitar a subida do passageiro; discriminamos pobres ao não fornecer ensino público universal de qualidade. Como a discriminação (atitude) decorre do preconceito (pensamento), é evidente que somos preconceituosos.

Pesquisa recentemente feita no Brasil dá conta de que mais de 90% das pessoas consultadas acham que existe preconceito; por outro lado, praticamente nenhum dos consultados se considera preconceituoso. Preconceito, portanto, é o dos outros, o que nós temos é opinião formada sobre os assuntos.

Nada como buscar a opinião de “minorias” para nos darmos conta do preconceito nosso de cada dia. Gostaria de sugerir a leitura de alguns livros que organizei, para o aprofundamento do tema: em 12 faces do preconceito, há interessantes olhares, como o de Jean- Claude Bernardet sobre os homossexuais, ou o do dr. Luiz Eugênio Garcia Leme sobre os idosos. Em Brasileiro é assim mesmo: cidadania e preconceito (esgotado), a procuradora Luiza Nagib Eluf e eu apresentamos um olhar cotidiano sobre o tema. Faces do fanatismo, que fiz junto com a historiadora Carla Bassanezi Pinsky, mostra situações-limites geradas pelo preconceito. E A invenção das raças, do geneticista italiano Guido Barbujani, pulveriza, cientifi camente, o ranço racista que subsiste em certos círculos. Boa leitura! ©

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um pouco sobre a profissão que escolhi...


O Serviço Social é construído ( e em construção) na sociedade. Logo, o contexto ao qual se insere a sociedade tem uma relevância no exercício profissional.
A profissão inicialmente fora relacionada a práticas de caridade das damas da sociedade pertencentes à igreja e até hoje muitos tem visto a profissão como um trabalho assistencialista, tal como os que foram realizados no século XVIII no período da Revolução Industrial.

No Barasil a profissão se gesta e se desenvolve nos anos 30, com o processo de desenvolvimento brasileiro e o crescimento das cidades que passaram a "inchar" e não comportar tanta gente. Daí as desigualdades foram acentuando-se e foi necessário criar algo que respondesse às questões sociais latentes: foi o papel do Assistente Social que, por meio de técnicas franco-belgas da 1ª escola existente no país que passou-se a obter meios de entender e enfrentar as desigualdades.

No período que foi sucedendo-se, o Serviço Social foi modificando suas atitudes diante dos fatos, tal como a sociedade passava pelas modificações. Nos anos sessenta a prática profissional foi desenvolvendo-se sob as rédeas da organização estatal que, com o golpe de 64 e a implantação do regime ditatorial passou a rehular a sociedade em todos os segmentos.

Tolhida do direito de expressão, a sociedade brasileira passou por momentos difíceis, embora muitos dos que vivenciaram o período tenham apenas a falaciosa idéia de que o país crescera com o governo nas mãos dos militares, pois a inflação diminuíra, não havia a mendicância nas ruas, tinha-se educação ( ainda que básica e sucateada), saúde (o essencial), políticas habitacionais (criação do BNH) para a população.

Nas políticas sociais desenvolvidas na ditadura percebe-se que servia apenas para controle da classe subalterna com medidas profiláticas na área da saúde, fica evidente a preocupação em conter os ânimos e assegurar os mínimos sob a ótica da benesse, não se preocupando com o desenvolvimento dos indivíduos na comunidade e sim com os riscos que corriam em não dispor de benefpicios para acalmá-los.Com a criação da LBA (Legião Brasileira de Assistência) e suas formas de enquadramento da população e o BNH com o intuito de financiar as moradias para a população (as casas populares e os conjuntos habitacionais) com ajuda do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) dos trabalhadores, saliente-se que essas políticas foram pautadas para os que tinham emprego, logo os desempregados não tinham como adquirir residências, restando-lhes ocupar áreas improdutivas.

O exercício profissional frente às políticas era um discurso "afinado" com o estado, pois a profissão servia para "enquadrar" os cidadãos aos interesses do Estado, determinando o modelo de pensar/ agir da profissão que tão sintonizado com a lógica das classes dominantes, pouco avança nos desafios da sociedade, o que só acontecerá mais adiante com o início da crítica pelos pensadores da profissão que começa por meio das reniões e congressos (como o documento de Araxá) onde a profissão volta-se para as necessidades da sociedade e as expressões das desigualdades que vão sendo aumentadas no processo de redemocratização e o período da economia fragilizada no país. A profissão avança para a compreensão da categoria Questão Social e rompe com os paradigmas ortodoxos tomando uma nova postura frente a essas demandas, porém o maior avanço veio em 1993 com a instituição do Código de ética profissional e a consolidação de uma ruptura com o passado da profissão.