terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ética e Economia na sociedade capitalista

A sociedade capitalista, assim como, outros tipos de sociedades, possui um ethos, esse ethos vai determinar o modo de ser desta sociedade. Regida sob a ótica do capital, a sociedade capitalista evidencia a pobreza e a riqueza, criando uma contradição, na qual opera produzindo necessidades.
As necessidades criadas a partir da produção de mercadorias para a acumulação de riquezas, desencadeiam um processo de inversão dos valores que afetam diretamente no modo de vida social.
Segundo Barroco (2008, p. 157):

O modo de ser capitalista é fundado em uma sociabilidade regida pela mercadoria, ou seja, em uma lógica mercantil, produtora de comportamentos coisificados, expressos na valorização da posse material e espiritual, na competitividade e no individualismo; um modo de ser dirigido a atender às necessidades desencadeadas pelo mercado.

Desse modo, o indivíduo passa a ser notado pelos bens materiais que possui, o objeto passa a tomar a identidade do sujeito, a coisificação das relações humanas faz parte da estratégia do capital de se produzir, reproduzir e acumular mais riqueza. E dentro dessa lógica de acumulação a qualidade das relações humanas é substituída pela quantidade de utilidade material, ou seja, a pessoa não vale pelo que é, mas pelo que possui, ou adquire.
Como a sociedade capitalista tem sua existência na relação capital/trabalho e essa relação se dá no processo de produção, onde são produzidas as mercadorias, que gera o consumo, e que também é retirada a mais-valia, a lógica do capital reproduz indivíduos egocêntricos cujos desejos são ilimitados e para os quais a produção não cessa de criar novos desejos.
Sob esta perspectiva consumista, a economia capitalista se desenvolve transformando o consumo de objetos em uma exigência de integração social, mercantilizando a moral, criando uma sociabilidade abstraída princípios ético-morais.
Afirma Barroco (2008, p. 161):

O modo de ser capitalista se reproduz e se legitima eticamente através do sistema de normas, deveres e representações pertinentes às necessidades objetivas de (re) produção da sociabilidade mercantil; nesse sentido, precisa da ideologia dominante, enquanto conjunto de ideais e valores que buscam a coesão social favorecedora da legitimação da ordem social burguesa.

A essência da moral burguesa está em pregar obediência às leis e aos costumes e, ao mesmo tempo, violá-los sempre que for lucrativo. Esta moral é sempre conservadora, pois coloca os interesses mesquinhos e estreitos da acumulação pessoal de riquezas acima das necessidades humanas.
Para Tonet (2004) a ética é justamente o contrário da moral burguesa. O autor afirma que a ética é a expressão mais explicita das necessidades humanas e, enquanto expressões desta é importante para que os homens tomem consciência do que são, das suas reais necessidades como seres humanos.
Quando os valores humanos passam a se curvar ante a dominância econômica e a reificação ("coisificação") das relações humanas, num contexto de capitalismo, todos os fundamentos do agir social passam a se delinear de acordo com a ordem econômica. É assim que o império do capital, com seus imensos tentáculos, corrói, pouco a pouco, todo o edifício ético que procura se manter ereto na defesa dos interesses sociais que transcendem ao materialismo econômico.
Segundo Weber (2007, p. 52):

A economia capitalista moderna é um imenso cosmos no qual o individuo nasce, e que se lhe afigura, ao menos como individuo, como uma ordem de coisas inalteráveis, na qual ele tem de viver. Ela força o individuo, na medida em que ele esteja envolvido no sistema de relações de mercado, a se conforma às regras de comportamento capitalistas. O fabricante que se opuser por longo tempo a essas normas será inevitavelmente eliminado do cenário econômico, tanto quanto um trabalhador que não possa ou não queira se adaptar às regras será jogado na rua, sem emprego.


Desse modo, o capitalismo não deseja se utilizar do trabalho daqueles que praticam a doutrina do livre arbítrio.
A moral burguesa nega a liberdade como capacidade humana, pois o individuo é limitado no poder agir com liberdade, no poder escolher conscientemente entre alternativas a partir de condições objetivas para criar alternativas e escolhas.
A Ética tem como fundamento conceitos de liberdade, necessidades, valor, consciência e sociabilidade. Porém na economia capitalista a moral cumpre um papel social que “serve aos interesses sociais desvalorizados da crítica, da possibilidade de transformações de valores, conduzindo uma sociabilidade fundada na repressão dos sentimentos, desejos e capacidades humanas”.
Onde está a ganância, o poder, a hegemonia de mercado, a sede de enriquecimento fácil e rápido não está a solidariedade, a consciência cidadã, a ética da tolerância, a valorização do homem.
Nesta sociedade regida pelo capital os valores éticos tem sido freqüentemente tensionado pelos problemas sociais concretos com que se depara a população.
Segundo Kliksberg (2003) estamos vivenciando diariamente a violação dos valores que deveriam dirigir a vida pública. Questões como o trabalho, abandono e prostituição infantil, o desemprego e todos os outros elementos que expressam a desigualdade “constituem uma afronta aos valores éticos de nossa civilização”. E o que o indigna ainda mais é o fato de existirem “os falsos álibis” que atenuam ou ignoram os conflitos éticos existentes, com argumentos tais como os que procuram converter a pobreza em um problema individual, culpabilizando os pobres “por não terem feito esforços suficientes em sua vida...”

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